“Com a chegada da água, tenho mais tempo para brincar”

Eu acordava de manhã, tomava café e ia com o balde buscar água no rio. Quando o balde de água secava, eu e meus irmãos íamos buscar de novo”, relembra Luiz Carlos, de Macuxi de 13 anos. 

Há poucos meses, a atividade era parte da rotina do adolescente, morador da comunidade São Francisco, localizada no Alto São Marcos, território indígena de Roraima.

Criada em 2020, a comunidade cresceu longe das principais fontes de água que poderiam abastecer a população e, com isso, as famílias, incluindo crianças e adolescentes, caminhavam até cinco quilômetros para chegar até a fonte de água mais próxima e, com baldes, faziam o transporte até suas casas.

A água era utilizada para suprir a sede, mas dividia espaço com os animais e as plantações – principal atividade econômica da comunidade – o que levava os moradores a caminhar o percurso várias vezes ao dia. No período chuvoso, o rio ficava cheio e perigoso para as crianças e adolescentes e, durante o verão, os riscos de estiagem preocupavam a comunidade.

“Quando a água chegou ali na casa, eu lembro ‘benzinho’ quando a vizinha falou: ‘Ei, Neta! Já chegou a água na torneira aqui”, conta entusiasmada Maria Francelina, a “Neta”, que é a primeira Tuxaua – um tipo de chefe que representa a comunidade – da comunidade indígena São Francisco.

Foi a partir da iniciativa do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), por meio do Programa de Água, Saneamento e Higiene (WASH), e a implementação pela Associação dos Povos Indígenas da Terra São Marcos (APITSM) e apoio do Distrito Sanitário Especial Indígena Leste de Roraima (DSEI LRR), que a comunidade indígena recebeu sua primeira rede de abastecimento de água. O Soluções Alternativas Coletivas (SAC) – um tipo de sistema de abastecimento de água – implementado na comunidade foi desenvolvido com base em uma fonte indicada pelos moradores, que se manteve ativa mesmo durante as últimas estiagens mais severas. O sistema capta a água dessa fonte e a submete a um processo de filtração, desinfecção e armazenamento em um reservatório elevado antes de ser distribuída para o consumo.

Com a rede de abastecimento, a comunidade, que reúne em torno de 97 pessoas, agora conta com água tratada e de qualidade para beber, cozinhar e cuidar de seus animais e plantações. “Antes, eu tinha plantado umas pimenteiras, umas coisas. Chegou o verão e minhas plantas morreram. Com a chegada da água, eu fiquei feliz e já plantei de novo. Está tudo bonitinho”, conta, orgulhoso, Luís Carlos.

“Quando o menino da água veio aqui e falou para minha mãe que eles iriam construir um lugar para colocar a caixa d’água, e que ia chegar água limpa aqui, eu fiquei muito feliz. Meu coração ficou mais forte e logo pensei que teria mais tempo para brincar ou fazer outras coisas que gosto”, comemora Luís. 

Com a chegada da água potável, os dias ganharam um significado diferente para Luís e outras 30 crianças e adolescentes que vivem na comunidade.

 

Legenda: Em 2025, todas as crianças, adolescentes e famílias da comunidade indígena São Francisco têm acesso a água potável e de qualidade.

Sobre o projeto

UNICEF tem trabalhado em conjunto com a APITSM e o DSEI Leste de Roraima para garantir a resposta à estiagem e o acesso à água em comunidades que compõem o Território Indígena São Marcos.

Desde março de 2024, materiais emergenciais para apoiar o acesso à água foram distribuídos em 35 comunidades da Terra Indígena São Marcos, com o objetivo de mitigar os impactos da forte estiagem que afetou a região. Ao longo desse período, foi possível implementar Sistemas Alternativos Coletivos (SACs) em quatro comunidades que, até então, não contavam com água tratada. O projeto segue até março de 2025.

Ao longo do projeto, foram realizadas oficinas nas três regiões que abrangem o território indígena (Baixo, Médio e Alto São Marcos) abordando temas como acesso à água, saneamento, boas práticas de higiene e cuidados nutricionais para a alimentação saudável de crianças e adolescentes. As oficinas tiveram como público de referência Agentes Indígenas de Saúde, Agentes Indígenas de Saneamento, lideranças, cuidadores de crianças – incluindo mães, pais, outros familiares e membros da comunidade –, além de jovens, meninos e meninas, com o objetivo de disseminar boas práticas e fortalecer a autonomia das comunidades na promoção da saúde e do bem-estar.

Fonte Unicef/ONU

ATENÇÃO; IMAGEM E LEGENDA

Legenda: Em 2025, todas as crianças, adolescentes e famílias da comunidade indígena São Francisco têm acesso a água potável e de qualidade.

Foto: © UNICEF/BRZ/Jorge Luiz

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