OUTUBRO DE 2025 – A água potável no Brasil vai acabar? Com essa pergunta em mente, o Instituto Trata Brasil, em parceria com a consultoria EX ANTE, produziu o estudo “Demanda Futura por Água em 2050: Desafios da Eficiência e das Mudanças Climáticas”. O material tem como objetivo projetar cenários de demanda futura de água nas moradias brasileiras em 2050, apontando as principais variáveis que influenciam as diferentes tendências de crescimento do
consumo.
A ampliação de oferta de água, vinda com a universalização dos serviços de saneamento, é uma das componentes da expansão no consumo de água projetada. As demais componentes estão associadas à expansão demográfica e ao crescimento econômico. Fatores como a temperatura das cidades, umidade relativa do ar, número de dias de precipitação, urbanização e tarifa também possuem forte influência na oferta e demanda de água nas cidades.
O QUE AFETA O CONSUMO DE ÁGUA?
O Brasil é o quinto maior país do mundo, com uma área de mais de 8 milhões de quilômetros quadrados e mais de 200 milhões de habitantes (IBGE, 2023). Dada essa dimensão, é natural que as tendências de consumo de água variem de uma região para outra no país. De acordo com os modelos estatísticos do estudo, quanto maior o grau de urbanização de uma cidade, maior o consumo diário per capita de água. A cada aumento de um ponto percentual na população urbana do município, espera-se um crescimento de 0,96% no consumo de água.
Outros aspectos que afetam o consumo de água são a tarifa e a temperatura. Foi constatado que grandes variações de preço estão associadas a pequenas variações na demanda, o que reflete um comportamento típico de serviços com preços regulados. Além disso, a temperatura máxima das cidades também é um fator relevante para o consumo, interferindo de forma positiva no nível de demanda: quanto mais quente, maior o consumo per capita diário. Para cada grau
Celsius adicional, a demanda por água cresce 24,9%. A umidade relativa do ar interfere no consumo per capita de água: quanto maior a umidade relativa do ambiente, maior o consumo. Na média das cidades brasileiras, a cada aumento de um ponto percentual na umidade relativa do ar, o consumo per capita de água cresce 3,6%.
O número de dias de precipitação também impacta a oferta per capita de água: cidades com chuvas mais frequentes estão associadas a níveis de oferta mais elevados. Em média, nas cidades brasileiras, a cada dia adicional de chuva na média mensal, o consumo per capita de água aumenta em 17,4%. Assim, municípios em áreas tropicais, com temperaturas elevadas ou localizados próximos ao litoral, apresentam maior oferta de água em relação a cidades situadas no semiárido brasileiro. Estas regiões, embora também registrem temperaturas elevadas, têm pouca precipitação, o que ocasiona restrições na oferta de água nas áreas de cerrado e caatinga.
STATUS DO CONSUMO DE ÁGUA NO BRASIL
Segundo dados do Sistema Nacional de Informações em Saneamento Básico (SINISA), em 2023 foram consumidos 10,7252 bilhões de m³ de água. Esse volume corresponde a uma média diária de 175,38 litros por pessoa no país, incluindo a quantidade de água perdida na distribuição.
Os 13,037 bilhões de m³ que seriam necessários para atender ao consumo do total da população brasileira em 2023 superam em 30,7% o consumo registrado no mesmo ano na base de dados do SINISA, que foi de 10,725 bilhões de m³. Vale observar que essa ampliação de oferta é uma das componentes da expansão no consumo de água projetada para o cenário de 2050, resultante da universalização do acesso aos serviços de abastecimento de água.
IMPACTO DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS
Outra questão relevante nesse horizonte de análise, que abrange mais de duas décadas, é o impacto das mudanças climáticas. Os parâmetros do modelo econométrico utilizado para análise climática indicam uma tendência de elevação tanto da temperatura máxima quanto da mínima anual no Brasil até 2050.
A temperatura máxima deverá aumentar aproximadamente 1º Celsius em comparação aos níveis observados em 2023, enquanto a temperatura mínima terá um acréscimo estimado de 0,47º Celsius. Isso resultará em um aumento da amplitude térmica de 0,52º Celsius até 2050.
Além disso, outras tendências apontadas incluem a redução no número de dias chuvosos e a ocorrência de precipitações mais fortes. Devido aos aumentos de temperatura, o consumo deve crescer 12,4% adicionalmente
em razão dos fatores econômicos. Isso resultaria numa demanda incremental de
Além do aumento no consumo, as mudanças climáticas projetadas até 2050 podem acentuar o desequilíbrio entre oferta e demanda de água no país. O avanço das temperaturas e a redução esperada no número de dias de chuva tendem a intensificar a aridez de diversas regiões, ampliando o semiárido brasileiro e trazendo consigo o risco de desertificação em novas áreas.
Nessas regiões, onde a disponibilidade hídrica já é limitada, as mudanças climáticas podem comprometer ainda mais a oferta de água, criando cenários de escassez com alta probabilidade de ocorrência.
Na média das cidades brasileiras, as tendências climáticas apontam para uma redução de 3,4% na disponibilidade de água ao longo do ano. Isso se traduz em aproximadamente 12 dias anuais de racionamento. Regiões onde os índices de chuva e o número de dias chuvosos já são mais baixos – como partes do Nordeste e do Centro-Oeste, por exemplo – deverão enfrentar mais de 30 dias de racionamento, trazendo sérias consequências para a saúde e a qualidade de vida da população.
Estudo completo: https://tratabrasil.org.br/wp-content/uploads/2025/10/Demanda-futura-por-agua-em-2050-v.-2025-10-23-baixa.pdf
Fonte: Instituto Trata Brasil


