Um enorme paradoxo afeta o Rio Grande do Sul nesse momento. Por um lado, estudos mostram que cada real aplicado em saneamento gera R$ 4 de economia em saúde — fora outros tantos benefícios à população e ao desenvolvimento. Enquanto isso, o Estado perde, diariamente, R$ 4,3 milhões em investimentos nessa área, com o atraso na assinatura do contrato que concretizará a desestatização da Corsan.
O processo ocorreu de forma transparente e com diálogo aberto para a sociedade, mas algumas partes interessadas seguem emperrando a finalização do negócio. Um prejuízo que torna ainda mais crítica a já dramática situação do saneamento no RS, como enfatizam inclusive os auditores do Tribunal de Contas do Estado ao alertar para a demora na concretização da venda.
Os números são alarmantes: 60,7% dos gaúchos em área urbana não têm coleta de esgoto, enquanto para 74,7% o esgoto não é tratado. Além disso, 41,12% da água tratada no Estado é perdida. O investimento atual da Corsan é insuficiente para atender às metas do Marco do Saneamento — enquanto a nova controladora projeta R$ 13 bilhões até 2033, gerando ainda mais de 66 mil empregos diretos e indiretos.
Por outro lado, quando os serviços funcionam, podem ser evitadas mais de 100 doenças, de acordo com o DataSUS. Há redução na taxa de abandono escolar e, também, evitamos desastres naturais, seja pela contaminação dos mares e mananciais, seja por enchentes.
Os municípios da Região Metropolitana têm uma relação histórica com a Corsan — e clamam por uma rápida solução para esse travamento. Cada dia de atraso nos distancia mais da urgente mudança da realidade do saneamento, que depende também do capital privado que será aportado. A saúde, a educação e o desenvolvimento dos gaúchos devem falar mais alto do que as ideologias.
Fonte: Correio do Povo